Dados de mais de 3 mil jornalistas estavam num computador roubado. Estamos todos apreensivos. Não sabemos o que poderá acontecer. Receamos que tenha sido uma ação direcionada, mas poderá também ser uma ação de meliantes comuns. O detalhe é que o pequeno condomínio onde fica a Comissão tem acesso restrito.
Os dirigentes da Comissão de Carteira e Ética de Angola mostram-se apreensivos depois do roubo de aparelhos electrónicos nas suas instalações em Luanda.
Um dos objectos roubados foi um computador, onde está a base de dados da Comissão de Carteira e Ética. Em entrevista à DW, Luísa Rogério, a presidente da comissão, diz que é aí que estão dados sigilosos de mais de 3 mil jornalistas no país.
“Não sabemos o que poderá acontecer. Receamos que tenha sido uma ação direcionada, mas poderá também ser uma ação de meliantes comuns”, afirma Rogério.
DW África: O que aconteceu exatamente nas instalações da Comissão de Carteira e Ética?
Luísa Rogério (LR): Quando o funcionário chegou, por volta das 7h da manhã, deu conta que a porta da entrada principal estava aberta. Depois, foi ver o local onde normalmente guardamos as chaves de outros compartimentos e estava tudo lá. Ele foi à minha sala e deu conta que a janela que dá para a varanda estava aberta, sem sinais de arrombamento. Nós observamos um protocolo à saída das instalações. Verificámos e isso foi feito.
O funcionário constatou que os “meliantes” levaram o computador com a base de dados, com todas as informações, deliberações, declarações, ofícios, tudo o que possam imaginar. Levaram o coração da Comissão de Carteira e Ética. Mais tarde, quando esteve lá a peritagem, descobrimos também que levaram a impressora para a impressão dos cartões da Carteira Profissional.
É a segunda vez que isso acontece. A primeira vez foi em maio do ano passado. Mas na primeira vez, levaram um computador novo e duas máquinas fotográficas. Desta vez tivemos a infelicidade de levarem material essencial para o funcionamento da Comissão.
DW África: Vocês têm noção das implicações que isso pode trazer?
LR: De imediato, nós não temos como trabalhar, porque roubaram a impressora e estamos sem dinheiro. Teremos de recomeçar praticamente do zero. O mais preocupante para nós é que os dados sigilosos de cerca de 3.200 jornalistas angolanos estão literalmente na rua – dados sobre o Bilhete de Identidade e outras informações pessoais. Tudo isso está na rua a partir da altura em que levaram o computador.
DW África: Quais são os impactos negativos, já que esses dados estão todos expostos?
LR: Estamos todos apreensivos. Não sabemos o que poderá acontecer. Receamos que tenha sido uma acção direccionada, mas poderá também ser uma acção de meliantes comuns. O detalhe é que o pequeno condomínio onde fica a Comissão tem acesso restrito.
DW África: Se há câmaras de vigilância, já fizeram peritagem das imagens? Não desconfiam de alguém do vosso pelouro, uma vez que o acesso é restrito?
LR: Não é a porta para as nossas instalações da Comissão que está codificada, mas a porta para o conjunto de quatro prédios [do condomínio]. Portanto, qualquer morador, qualquer pessoa que esteja lá, nesta zona residencial, poderá ser suspeita. Não sabemos, pode ser qualquer pessoa que tenha a chave.
DW África: Configura-se também um ato de negligência da vossa parte, uma vez que já foram vítimas pela primeira vez? Se calhar, talvez podiam reforçar a segurança ou contratar uma empresa de segurança?
LR: Não, não podemos contratar uma empresa de segurança por uma razão muito simples: Nós não temos meios para pagar. Aliás, nós temos subsistimos sabe Deus como, uma vez que, desde o ano passado, não recebemos um único centavo do financiamento via Orçamento Geral do Estado. Tudo o que temos são os emolumentos que recebemos.