O presidente da UNITA (oposição) disse esta sexta-feira que a nova divisão político administrativa de Angola é um “expediente” que visa contrariar a “tendência irreversível da queda” do partido no poder (MPLA) perante a sua “acentuada impopularidade”.
Adalberto Costa Júnior, que falava na abertura da quarta reunião ordinária da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), acusou o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) de “ter deitado para o caixote de lixo toda a legislação autárquica”.
Segundo o presidente da UNITA, o partido no poder em Angola decidiu negar todos os discursos e promessas feitas durante a sua campanha eleitoral e “confessar que nunca teve na sua agenda a realização das autárquicas”.
“Mantemos a nossa convicção de que quem não conseguiu em 49 anos resolver os problemas básicos das populações nos 164 municípios não vai conseguir seguramente ser capaz de resolver os problemas nos agora 326 municípios. É uma questão de realismo político e material”, referiu.
Angola vai contar a partir de janeiro de 2025 com mais três novas províncias, nomeadamente Icolo e Bengo (que surge da divisão da província de Luanda), Moxico Leste (que emerge da divisão da província do Moxico) e Cuando (que surge da divisão do Cuando-Cubango), totalizando 21 províncias, à luz da nova lei da divisão administrativa do país.
Para Adalberto Costa Júnior, a nova divisão político-administrativa do país e as “tesouradas” à geografia das províncias, “nada mais são senão o expediente que visa contrariar a tendência irreversível da queda do partido no poder perante a sua acentuada impopularidade”.
“A impopularidade é crescente perante a incapacidade de governar em transparência. A incapacidade de melhorar a realidade social e económica dos trabalhadores, das famílias e das empresas do nosso país”, disse.
Falando na abertura desta reunião que avalia a situação geral do país e a vida interna do seu partido, o político deplorou também a perda contínua do valor do kwanza (moeda nacional) e o “irreversível” desespero das famílias face à galopante inflação dos produtos da cesta básica.
Considerou que a justificação apresentada ao país sobre a nova divisão administrativa, como sendo a aproximação dos serviços às populações, “é uma falácia que esconde as verdadeiras intenções do regime”.
“Não haverá desenvolvimento social e económico, nem progresso enquanto o regime continuar focado na sua sobrevivência política e a ignorar os reais problemas do povo, como o que temos vindo a assistir ao longo de todos os últimos anos”, notou.
Costa Júnior referiu, por outro lado, que a fome em Angola “é hoje uma realidade insofismável” que afeta muitas famílias, muitas das quais “se socorrem cada vez mais dos contentores de lixo para conseguirem alguma coisa para comer”.
Citando os índices da pobreza no país, o desemprego, a inflação, a malnutrição e deficiências no acesso à saúde e educação, o responsável partidário classificou o quadro social do país como “bastante sombrio”.