João Lourenço quer ordem e disciplina no MPLA – Pedro Neto é a aposta do líder do partido

Uma das funções de um padrinho é a de proteger os seus afilhados e criar condições para que eles consigam ser bem-sucedidos. O padrinho João Lourenço não é uma excepção, faz do afilhado Paulo Pombolo um dos seus homens de confiança e seu protegido.

O secretário-geral do MPLA venceu a guerra contra a antiga vice-presidente do Partido, Luísa Damião. Além de derrotada e descartada, a antiga ‘vice’ sai humilhada, magoada e politicamente fragilizada.

Foi no 6.º Congresso Extraordinário do MPLA de 08 de Setembro de 2018 que a antiga jornalista da Agência Angola Press ( ANGOP ) foi eleita vice-presidente do partido, Luísa Damião foi a primeira mulher a ocupar esse cargo na história dos “camaradas”, tendo como antecessores Pitra Neto e Roberto de Almeida, um cargo instituído após o famoso congresso da FILDA em 2003. Ser a segunda figura do Partido é para pessoas que são dignas de confiança, respeito e consideração do líder. João Lourenço procurou provar que a sua escolha não era um mero exercício de cosmética e era com Luísa Damião com quem partilhava e discutia os principais dossiers inerentes à vida interna do MPLA e a sua estratégia de governação. Até aí era tudo perfeito.

Luísa Damião errou em muitas escolhas e decisões políticas. Algumas escolhas para o secretariado do Bureau Político e mesmo para outras estruturas do MPLA não foram muito felizes, criando muitas fricções. A relação tensa e pouco cordial com o secretário-geral Paulo Pombolo criaram um desgaste à sua imagem e não a favoreceu.

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É acusada de ter usado e manipulado estrutura do Partido em prol de interesses pessoais e de grupos. Começam agora a ganhar força acusações contra si de envolvimento de esquemas para facilitação de ingresso no Comité Central, Bureau Político, Parlamento e outros espaços. O seu alegado envolvimento nos processos eleitorais da JMPLA de 2019 e de 2024 ( no qual as suas apostas foram sempre derrotadas) não foram bons para a sua imagem e prestígio no seio do partido, bem como junto do líder. Muitas guerras e divisões internas, muito descontentamento e críticas constantes às lideranças do Partido, as bases estão descontentes e pouco dinâmicas. Os militantes sentem que há falta de estratégia e visão de futuro por parte das lideranças. Muita falta de união, coesão e disciplina. Lutas de egos, de protagonismo, de interesses e de influências estavam (e ainda estão) a tomar conta do MPLA.

João Lourenço começou a fazer uma gestão permanente do Partido com o seu Paulo Pombolo e esvaziar Luísa Damião. João Lourenço leu os sinais, passou a ver na sua vice-presidente uma “força de bloqueio”, fez dela uma líder a prazo e aguardou pacientemente este congresso extraordinário para se ver livre dela e fazê-la sair pela porta dos fundos. Ela assumiu o cargo num congresso extraordinário e foi também num congresso extraordinário que fez as malas. Mas Luísa Damião não vai só, João Lourenço colocou junto no pacote de “malas aviadas” Maricel Capama, Anto nieta Baptista e Carla Leitão Ribeiro de Sousa. Lourenço sabia bem para quem se estava a dirigir, quando na manhã desta terça-feira disse aos congressistas que: “Hoje será um dia duro para alguns”. Fecha-se um ciclo e confirma-se a tradição de um partido que é exímio na arte de triturar líderes e de não ter contemplações na hora de os afastar.

Até quando o Padrinho João vai “aguentar” o afilhado Paulo?

Na verdade, a expectativa de alguns membros do secretariado e de muitos do Bur eau Político era de que João Lourenço fosse “varrer” Luísa Damião e Paulo Pombolo já neste conclave, mas o certo é que o líder decidiu poupar o afilhado e dar-lhe mais alguma margem de manobra ou preparar-lhe para ser carne de canhão em Dezembro de 2026, como serão muitos que foram agora poupados. Certo é que Pombolo viu-se livre da sua rival, mas passará a ter maior pressão e escrutínio de João Lourenço e dos membros do Partido.

É uma vitória agridoce e de curto prazo, existem também muitos sectores internos que contestam a sua liderança e modelo de gestão. Com Mara Quiosa, terá de ser diferente, terão de trabalhar juntos para devolver alma ao Partido e esperança aos militantes. 2027 é já ao virar da esquina, o tempo urge e há muito trabalho pela frente.

João Lourenço quer foco, ordem e disciplina. João Lourenço quer visão, organização e estratégia. Paulo Pombolo sabe que desta vez não pode falhar e nem se “espalhar”, é que Mara Quiosa vem com a lição bem estudada, um guião bem definido e sem muito tempo para guerras de poder e protagonismo. Até quando “ Don – Lourenço” vai segurar o seu afilhado Paulo? Uma pergunta que até mesmo Mário Puzo teria dificuldades em responder. João Lourenço aposta em Pedro Neto para colocar ordem e disciplina no MPLA

Pedro Neto, general na reforma, mandatário da candidatura de João Lourenço nas eleições de 2022, assume Coordenação da Comissão de Disciplina, Ética e Auditoria do Comité Central.

O ex-secretário para os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria muda de área e assume agora a Coordenação da Comissão de Disciplina, Ética e Auditoria do Comité Central, substituindo no cargo Antonieta Baptista. É uma aposta de João Lourenço, e a sua indicação é um sinal de que o também Presidente da República quer ‘ordem no circo’, exigindo mais ordem e disciplina no seio do MPLA.

Pedro Neto é general na reforma, foi comandante da Força Aérea Nacional, embaixador de Angola na Zâmbia e presidente do Clube Central das Forças Armadas Angolanas, 1.º de Agosto. É amigo de longa data de João Lourenço, mandatário da sua candidatura às eleições de Agosto de 2022. É uma voz autorizada, experiente e pessoa de confiança. É muito reservado, tem disciplina militar e é leal ao líder.

Trata-se de um ‘operativo’ de primeira linha com quem João Lourenço pode contar para os próximos combates internos. Foi ‘transferido’ para a Coordenação da Comissão de Disciplina para colocar na linha algumas das ‘vacas sagradas’ do MPLA e travar qualquer tentativa de afronta ao poder de João Lourenço.

“É preciso um general para travar outros generais. O discurso de João Lourenço sobre o papel e função de um árbitro em jogo foi um recado para certas figuras do partido, as afrontas públicas ao líder e algumas situações de indisciplina interna estavam a fragilizar o MPLA. O general Pedro Neto tem agora a missão de impor ordem e disciplina na instituição”, avança uma fonte do NJ.

Que a disciplina seja a base de actuação dos nossos militantes!»

«Após ter sido eleito para o cargo, Pedro Neto foi abordado pelo NJ, mostrou-se confiante para exercer as novas funções e disse que não se considera um ‘outsider’. Também realçou que o facto de ser um militar de carreira pesou na sua escolha para o novo cargo.

“A minha indicação ou a minha eleição tem como base o facto de, durante muito tempo, ter sido militar, e, como sabem, os militares primam por uma disciplina rigorosa, e isso serviu também. Penso que isso pesou na minha indicação para o cargo”, afirmou, reforçando que “o que se quer aproveitar (com a minha indicação) é uma postura que, não sendo castrense, seja de rigor dentro do partido”.

João Lourenço mexe no Bureau Politico do MPLA e afasta Luísa Damião do cargo de vice-presidente. P aulo Pombolo resiste e continua no cargo de Secretário Geral. 

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