O PRA-JA Servir Angola terá o seu congresso constitutivo neste ano de 2025. Abel Chivukuvuku disse que, nas eleições de 2027, “o partido será Governo ou parte do Governo”. Significa que fará uma coligação com o MPLA?
Em Angola, há quem veja o PRA-JA Servir Angola, de Abel Chivukuvuku, mais perto de deixar a Frente Patriótica Unida (FPU) para se juntar ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
O partido terá o seu congresso constitutivo em 2025. E a declaração do coordenador-geral da comissão diretiva provisória, de que em 2027 o PRA-JA será “Governo ou parte do Governo” de Angola, veio alimentar ainda mais os relatos de uma possível coligação com o MPLA, o partido no poder.
De acordo com Abel Chivukuvuku, em 2027, ano das próximas eleições gerais no país, o PRA-JA Servir Angola vai ser “Governo ou parte do Governo”, mas “de forma positiva, de forma patriótica”, contribuindo com as suas ideias para o futuro do país.
“2027 é já daqui a bocado. Ou somos Governo ou somos parte do Governo. É por isso que realizamos esta reunião, para não terminar o ano assim. Nesta reunião, lançamos as bases para o que deve ser 2025 (…), temos de nos preparar para todas as circunstâncias e eventualidades. É por isso que 2025 vai ser um ano crítico para o trabalho”, disse.
São declarações que fizeram com que vários setores da sociedade, de eleitores comuns a dirigentes da UNITA, pensem que Abel Chivukuvuku estará a tentar aliar-se ao partido no poder em 2027.
“Um partido político cria-se para quê? Se é só para vaidade, isto não é nossa agenda. A nossa agenda é ser Governo”, respondeu Abel Chivukuvuku aos que questionaram as suas posições políticas.
Sobre as teorias de uma coligação com o MPLA, Abel Chivukuvuku diz que desconhece. Mas afirma que a Frente Patriótica Unida, com a sua “fórmula ganhadora”, deu sinais de conquistar a governação em 2022.
“E se a Frente Patriótica ganha, nós somos parte do Governo. Porquê que não vamos fazer parte do Governo? Se fazemos parte da Frente Patriótica é para sermos parte do Governo com os outros parceiros? Repito, em 2027, ou somos Governo ou parte do Governo,” cravou.
Chivukuvuku vai coligar-se com adversário da FPU?
O politólogo David Sambongo diz que as declarações de Chivukuvuku apresentam duas visões sobre o futuro da sua organização: “Pode ser entendida como, numa impossibilidade da FPU já não continuar, o PRA-JA concorrer unilateralmente e conseguir ser Governo ou estar coligado na Frente Patriótica Unida e fazer parte do Governo”.
Várias correntes entendem que deixar os parceiros da FPU para se juntar ao MPLA, que governa desde a independência do país, seria uma traição aos angolanos que aguardam a tão esperada alternância de poder.
O comentador político Feliciano Lourenço é uma dessas vozes: “Como fica a questão da Frente Patriótica Unida? O projeto morreu? Sabemos que a FPU engloba o Bloco Democrático, a UNITA, o PRA-JA e alguns representantes da sociedade civil. Todos eles têm o MPLA como adversário. Então, Chivukuvuku vai desfazer estas relações e criar relação com o MPLA, como fica depois? São coisas que devemos refletir”.
Para David Sambongo, um pacto entre o PRA-JA e o MPLA, em 2027, colocaria a credibilidade de Abel Chivukuvuku na “corda bamba”.
“Se Chivukuvuku aceita este acordo, poderá ter consequências políticas bastante graves, o que se traduz na perda da credibilidade. Pode também se traduzir numa perda significativa da sua popularidade e será o fim político de Abel Chivukuvuku,” considera.
Diante destas situações, destaca-se também o anúncio de que os dirigentes do PRA-JA, que são deputados na lista da UNITA, terão de renunciar ao mandato nos próximos tempos. É uma obrigação legal, porque não se pode ser deputado na lista de um determinado partido e ser dirigente de outra força política.
Abel Chivukuvuku já anunciou que vai renunciar ao mandato de deputado.
“Só estamos a cumprir a lei. Agora, no meu caso, é por vontade própria. É conhecido e é público que, em 2012, fui eleito e não fiquei lá no Parlamento. Em 2017, fui eleito e não fiquei lá. Isso não é novidade. Entretanto, nenhum deputado é obrigado a sair. É uma questão de opção pessoal. Quem quiser ficar lá, fica. É legítimo e é um direito. Só não pode ser dirigente do PRA-JÁ”, disse o político, sublinhado não se pode interpretar a saída de alguns dirigentes do PRA-JA do Grupo Parlamentar da UNITA como um indicador da morte da Frente Patriótica Unida. DW