O escritor e dramaturgo Mena Abrantes afirmou, em Luanda, na terceira conferência do ciclo do mês de Dezembro da série Conversas da Academia à Quinta-feira, que não existe teatro profissional em Angola, havendo apenas grupos amadores e semi-profissionais, tendo dois deles sala própria, o Horizonte Njinga Mbande e o Elinga.
Dissertando o tema “Teatro em Angola”, na presença de académicos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Moçambique, Portugal e Senegal, sob moderação da antropóloga e actriz Agnela Barros, o conferencista rematou dizendo que “é preciso que bancos, seguradoras e empresas passem a apoiar o teatro”.
O director do Elinga Teatro, citado pelo JA, que falou da história do teatro em Angola, a partir da segunda metade do século XIX, deu conta que o Cine Teatro Nacional foi inaugurado em 1932, numa altura em que o teatro era feito praticamente apenas por portugueses, do sexo masculino. O Clube de Teatro de Angola, criado em finais da década de 1960, produziu um boletim sobre teatro, que circulou até ao final do período colonial.
Ainda na década de 1960, Mena Abrantes destacou a criação do Grupo Experimental de Teatro (com Domingos Van-Dúnem, Antonino Van-Dúnem e Gabriel Leitão) e do grupo Ngongo (dirigido por Roldão Ferreira), este último considerado em 1965 o “melhor grupo de teatro do Ultramar português”. Outro nome a destacar é o de Armando Correia de Azevedo.
Para além da viragem política, o ano de 1974 marca uma viragem ao nível do teatro em Angola, com acções teatrais de agitação e propaganda, primeiro nas escolas de Luanda e depois, com espectáculos de teatro em bairros, cadeias e empresas. O destaque aqui vai para a peça “Poder popular”, interpretada em duas açucareiras, que marcou o fim do grupo teatral Tchinganje (no ano de 1976), dirigido por Mena Abrantes. Este grupo foi depois autorizado novamente a exibir-se, tendo adoptado o nome Xilenga.
De acordo com Mena Abrantes, depois da criação do grupo de teatro da Igreja Kimbanguista (em 1976), do Grupo de Acção Teatral (1977), do Grupo de Instrutores de Teatro e do Grupo Experimental de Teatro, a segunda metade da década de 1980 trouxe consigo a criação de três outros grupos, que (a juntar ao da Igreja Kimbanguista) se mantêm até hoje. Trata-se do Horizonte Njinga Mbande (criado em 1986, por Adelino Caracol e Izequiel Issequiel), Oásis (fundado por Africano Kangombe) e Elinga, dirigido por ele (os dois últimos criados em 1988). Já o grupo Julu, criado em 1992, destaca-se por fazer teatro comunitário, circulando por todo o país.
Na próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para o dia 26 de Dezembro, às 19h00, sob moderação da antropóloga e actriz Agnela Barros, a jurista e actriz Pulquéria Van-Dúnem abordará o tema “Ser actriz em Angola”. A participação via Zoom será livre.