Com a popularização dos vídeos de entretenimento que vão publicando online, o coletivo de youtubers angolanos Cunamata ganhou destaque no seu país e nos restantes PALOP, mas foi o Brasil que acabou por o acolher.
A irreverência na criação de conteúdos levou-os a ganhar notoriedade nas redes sociais, conquistando em menos de um ano o prémio de “Melhor Criador de Conteúdos do Ano”, nos concursos “Ouros de Angola”, no início de junho, e “Nova Geração”, no final de julho, chegando inclusive a chamar a atenção do público brasileiro, somando mais de 4 milhões de seguidores.
O coletivo, composto por dez jovens, tem como personagens mais conhecidos Cunamata e Wendjo, mentores do projeto. Em entrevista à BANTUMEN, contaram que Cunamata surgiu há sensivelmente dois anos, trazendo um conteúdo diferenciado, baseado nas características pessoais das personagens e em cenas do quotidiano com uma pitada de humor.
“Xé, fala baixo!” é a frase que os caracteriza na Internet, uma expressão que descreve a personalidade de Cunamata na vida real. “Gosto muito de silêncio (…) e eu estava sempre a dizer isso aos meus irmãos mais novos”. Por outro lado, o personagem Wendjo, o azarado das cenas, reflete o seu passado. “Eu vivia numa zona que já foi classificada como uma das mais perigosas, já fui muito, mas muito assaltado, já chorei, já sofri”, contou Wendjo sobre a inspiração.
O TikTok foi a primeira plataforma onde difundiram os seus vídeos, e posteriormente migraram para outras redes sociais. No início, Cunamata não teve os resultados que pretendia, tendo apagado a conta e decidido fazer um curso de marketing. “Comecei a planear o que poderia trazer de novo porque já havia muita coisa na Internet, e então percebi que tinha que trazer algo novo”, contou. Em quatro meses, conseguiram um milhão de seguidores.
Público Brasileiro
Na altura da entrevista, Cunamata e Wendjo estavam prestes a viajar para o Brasil, fruto do grande público que conquistaram nas terras de Lula da Silva. Questionados se era parte dos seus planos conquistar o público brasileiro, responderam: “Foi uma consequência porque, quando postámos e criámos o canal, não pensávamos em alcançar agora o Brasil; pensávamos apenas em atingir outras regiões, sem contar com o Brasil”, contaram.
“Ainda não cheguei onde queria, ainda não me sinto satisfeito”, Cunamata sobre o Brasil
Baptista Miranda foi a âncora, ao mostrar os vídeos do coletivo a Igor Coelho, fundador de um dos podcasts de maior audiência do país, o Flow. Igor partilhou os vídeos nas histórias do Instagram e convidou-os para participarem no podcast.Este acontecimento levou Cunamata a criar um plano direcionado para o Brasil. “Eu tinha outro plano para alcançar o público brasileiro, mas nessa de fazer conteúdo para o público nacional, o vídeo viralizou lá no Brasil”. A viagem foi projetada exatamente para criar conteúdos e firmar contratos. “Vamos passar a fazer vídeos em São Paulo”, contaram, e acrescentaram que “já existe um contrato com uma empresa brasileira”.
Monetizar na Internet
Gerir dinheiro através da Internet é um desafio para qualquer criador de conteúdos digitais em Angola. Atualmente, muitos afirmam que já conseguiram. Para Cunamata começar a ver dinheiro sem necessariamente fazer publicidade, que, segundo ele, é a forma que os influencers angolanos mais usam, teve que criar as contas a partir de um país estrangeiro. “Eu criei tudo com contas de fora e, graças a Deus, consegui monetizar”, disse.
Com resultados concretos, o criativo decidiu que iria partilhar a sua experiência e dicas com outros influenciadores angolanos, por forma a que estes mais facilmente consigam renatabilizar o seu conteúdo. “Eu desejo passar essa informação gratuitamente para todos, porque é algo que não chega de bandeja, não é algo grátis. Então, pretendo passar isso ao público, já que é de acesso difícil”, planeou. Anteriormente, “entrava em lives e dava dicas de como crescer e tudo mais. E já dizia que não depende de uma estratégia única, nem de uma fórmula mágica para crescer na Internet”.
Perspetivas de futuro
Apesar de já ter ultrapassado a marca de um milhão de seguidores, Cunamata ainda não está satisfeito. O objetivo do coletivo é crescer mais e alcançar um público ainda maior. A marca do milhão era apenas o primeiro passo. “Se quisermos entrar no mundo do futebol, montamos algo e conseguimos um jogador [para colaborar], essa é a nossa estratégia”, perspetivam. Por entenderem que os registos atuais podem ser passageiros, o grupo começa a pensar no futuro, e por isso, já delinearam o próximo passo: “Temos a ideia de abrir uma empresa futuramente, na verdade, daqui a um tempinho”, garantiram.
Apesar de o estado social de Angola, que na visão dos criadores não favorece a maioria, o coletivo deixa uma mensagem para quem pretende enveredar na criação de conteúdos digitais: “Não desistam dos vossos sonhos, trabalhem mais do que a concorrência e façam bem feito”, finalizaram.