A performance “Congolândia – Universo em Desencanto”, do artista angolano Thó Simões, foi um dos destaques da terceira edição internacional do festival MATE (Música, Arte, Tecnologia e Educação), realizado de 23 a 26 deste mês, na cidade de Coimbra, Portugal.
A obra utiliza a performance como espaço de reflexão sobre as culturas ancestrais africanas no presente, mesclando pintura corporal, símbolos tradicionais e linguagens contemporâneas.
Listras, curvas e círculos evocam referências aos Mursi da Etiópia e aos símbolos adinkra da África Ocidental, enquanto o uso de pixo nos corpos dos performers propõe “mensagens híbridas” de resistência às normas colonizadoras e às adulterações históricas que moldaram corpos e linguagens.
Participaram da performance o artista multifacetado Massokolo Bokolo, a bailarina Milca Ngangula e o percussionista Maurício Pedro, todos residentes em Portugal, segundo o documento referenciado pelo OPAIS.
Eron Quintiliano, curador e responsável pelo festival, referiu que a apresentação de Thó Simões foi um dos momentos mais aguardados do evento. “A obra conversa com o ADN do MA-TE criação, experimentação e pensamento crítico, e trouxe para Coimbra a energia de uma cena angolana vibrante, inventiva e indisciplinar. Esperamos um encontro potente entre público, artistas e profissionais, capaz de abrir novas colaborações luso-angolanas”, afirmou. Este ano, o festival recebeu mais de mil propostas, das quais 300 foram validadas e apenas 33 selecionadas para a programação final.
“Congolândia” destacou-se pela coerência entre forma, conteúdo e performance ao vivo, segundo Quintiliano, que sublinhou o equilíbrio do processo curatorial entre originalidade, relevância cultural, viabilidade técnica e diversidade geográfica.
O responsável frisou ainda que, embora não seja a primeira presença africana no MATE, a participação angolana tem carácter particularmente simbólico, tanto pela trajectória de Thó Simões quanto pelo diálogo com a diáspora em Portugal.
Presença afro-lusófona no MATE
A edição deste ano do festival ampliou a presença de vozes afro-lusófonas nas áreas de música, artes visuais, cinema e educação. Entre os participantes, destacase o artista plástico Hamilton Babu, que estreou na exposição inédita “GO To MATE”, ao lado da brasileira Marina Junq, com 12 obras inspiradas no lambelambe e no simbolismo Angola– Brasil–Portugal.
O angolano Kenny Caetano também marcou presença, actuando em dupla com a portuguesa Luzingo num live set que cruza afrobeat, saxofone e eletrónica, reflectindo a vitalidade da diáspora angolana em Lisboa.