Ossadas de generais da UNITA vão ser entregues sexta-feira

Os restos mortais dos generais Altino Sapalalo “Bock”, Antero Morais Vieira “Antero” e Constantino Ndala “Assobio da Bala” serão entregues às respectivas famílias, sexta-feira, para a realização das homenagens e das exéquias.

As ossadas serão entregues depois de terem sido localizadas nas matas densas do Tchandji, na província do Bié.
Em declarações aos órgãos públicos, o coordenador do grupo técnico científico da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), Cornélio Caley, explicou que já houve uma concertação com os familiares das vítimas, cuja medida é justificada pelo facto de as vítimas, em vida, terem sido oficiais generais das extintas FALA, braço armado da UNITA.
“Por isso, serão prestadas as devidas honras militares e também haverá um momento reservado às famílias. A entrega dos restos mortais dos três generais está agendada para o dia 21 deste mês, cabendo às famílias encontrarem as datas e os locais para os funerais”, acrescentou.
 Segundo Cornélio Caley, as equipas técnicas de localização e exumação da CIVICOP encontram-se a palmilhar quase todo o país, sublinhando que neste caso específico, que envolveu os três generais da UNITA, as equipas estavam no terreno há mais de três meses.
“O facto de não haver colaboração para a identificação mais fácil e precisa das zonas em que as vítimas se encontram, torna o processo muito mais difícil, moroso e complexo”, referiu o coordenador do grupo técnico científico da Comissão para Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos.
Questionado sobre a reacção das famílias das vítimas, Caley disse que a Comissão tem assistido profundas emoções, um aliviar de alma e de cura dos sentimentos por parte dos entes queridos.
“É notório o sentimento de profunda gratidão ao Executivo por parte das famílias, facto que é sempre realçado por todas as pessoas que têm acompanhado os trabalhos da Comissão em vários momentos e especialmente quando ocorrem essas entregas”, sublinhou.
A CIVICOP continua com as portas abertas e braços estendidos para continuar a “abraçar e perdoar” todos aqueles que se revêm neste grande gesto do Estado angolano de pacificar os familiares das vítimas dos conflitos políticos ocorridos no país.
Circunstâncias das mortes
Altino Sapalo “Bock”, na época general das extintas FALA, alegadamente foi morto aos 46 anos, pelos seus companheiros de armas, por este ter perdido o controlo da província do Bié para as Forças Armadas Angolanas (FAA).
Antero Vieira, apesar de general de três estrelas tinha, igualmente, o grau de comandante, que segundo fontes foi morto também pelos companheiros de guerrilha, aos 45 anos, supostamente por ter presenciado o seu tio “Bock” a ser executado.
Por último, o general de três estrelas Constantino Ndala “Assobio da Bala” também foi morto pelos companheiros de armas, mas as causas ainda são desconhecidas.
Na recente entrevista concedida à prestigiada revista Jeune Afrique, o Presidente da República, João Lourenço, reiterou que pediu “desculpas e o perdão aos angolanos pelas vítimas de todos os conflitos que se abateram sobre o país e ao nosso povo, desde a proclamação da nossa Independência”.
“E é óbvio que, entre estes conflitos, um dos que mais visibilidade teve foi, sem sombra de dúvidas, o 27 de Maio, mas não só. Houve a história das mortes desnecessárias na Jamba, em que pessoas foram atiradas para a fogueira, em que o povo era forçado a assistir, até obrigados a alimentar as chamas da fogueira”, ressaltou.
João Lourenço disse tratar-se de assassinatos com pendor político de figuras como Tito Chingungi, Wilson dos Santos, entre outros. “É em relação a tudo isso que eu entendi que devíamos pôr uma pedra por cima e começar uma nova página”, disse.
O Chefe de Estado esclareceu mais adiante que a estes conflitos está ligada a necessidade de o Estado, que é a única entidade que tem essa capacidade, com a colaboração da sociedade civil, porque sem ela também o Estado não pode fazer tudo, fazer um investimento no sentido de se localizar os restos mortais dessas mesmas vítimas dos tais diferentes conflitos.
“Começou a ser feito e está a ser feito. Já houve alguns casos de sucesso em que o DNA das ossadas coincide com o DNA dos familiares mais directos. Esses restos mortais, essas ossadas, foram entregues às famílias, realizaram-se funerais condignos, as famílias sentiram-se aliviadas. Só que o número é tão grande que o Estado não pode parar”, sublinhou.
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