Apesar da recuperação face o período da pandemia que abalou o sector global dos transportes, e vários planos de recuperação, a TAAG continua a ser deficitária, e o Estado deverá continuar a injectar dinheiro público para garantir a operação da companhia, já que o auditor refere que a sobrevivência da TAAG depende de injeções contínuas de capital. E terá de o fazer porque a companhia é a base da rentabilização do novo aeroporto internacional de Luanda.
A companhia aérea nacional TAAG – Linhas Aéreas de Angola continua a somar prejuízos nas suas operações, tendo contabilizado um resultado líquido negativo de 90,1 mil milhões Kz (o equivalente a 108,7 milhões USD) em 2023, depois ter registado uma recuperação em 2022, segundo apurou o Expansão com base no relatório e contas da transportadora aérea, divulgado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE).
Pelo menos desde 2011 que a companhia tem registado resultados negativos, com excepção ao 2022 quando registou lucros de 460 milhões Kz. No entanto, se contabilizarmos os últimos 10 anos, a transportadora aérea de bandeira nacional já acumula prejuízos de 632,1 mil milhões Kz (1,7 mil milhões USD). Entretanto, é importante realçar que à semelhança de praticamente todas as companhias aéreas em todo o mundo, entre 2020 e 2021, a TAAG foi fortemente afectada pelas restrições na circulação de pessoas imposta pelas medidas de combate à pandemia da Covid- -19. A companhia aérea transportou apenas 370.407 passageiros 2020 que vieram cair para 298.365, menos 1.137.907 que o total de passageiros transportados em 2019 (pré-pandemia).
Apesar do aumento de 45% no número de passageiros transportados (de 918.809 em 2022 para 1.328.904 em 2023), os custos operacionais da empresa continuam a exceder as receitas, levando a prejuízos contínuos. Em 2023, a transportadora aérea de bandeira nacional registou um crescimento de 51% nos proveitos operacionais (essencialmente passagens de voos regulares, taxas de combustível, carga e correio), mas os custos operacionais aumentaram em 67% (mais 151,0 mil milhões Kz), estiveram na base do afundanço dos resultados operacionais que pioraram face a 2022, ao atingirem 88,9 mil da TAAG de resultados operacionais negativos. Aliás, pelo menos nos últimos 10 anos a empresa nunca registou nenhum resultado operacional positivo.
Segundo o relatório e contas, os aumentos dos custos operacionais resultam essencialmente da subida dos “Outros custos e perdas operacionais” que registou um aumento de 91% para 292,2 mil milhões Kz. Trata-se sobretudo do aumento dos custos incorridos com o fornecimento de combustível, no país e no estrangeiro. “O aumento substancial ocorrido no exercício, está directamente relacionado com o aumento igualmente significativo da actividade, verificando-se um ligeiro aumento na proporção destes custos em comparação com a receita obtida pelos nossos principais serviços, face ao período anterior (2023: 47%; 2022: 46%). Este aumento é resultado do aumento do preço do combustível denominado em kwanzas, em resultado da desvalorização face ao dólar”, justifica a TAAG no seu relatório e contas. Note-se ainda que o crescimento dos “outros custos” está também associado ao aumento das despesas com Passageiros (+ 119%) e com taxas aeroportuárias de aterragem (305%, ou seja, mais do que triplicaram).
Outro elemento que influenciou o aumento dos custos operacionais da TAAG foi o crescimento de 25% dos custos com pessoal, que passou de 44,1 mil milhões Kz em 2022 para 55,1 mil milhões em 2023. Na base está o aumento de mais 232 colaboradores para os actuais 2.389.
Ainda no exercício económico de 2023, a TAAG registou 31,4 mil milhões Kz de perdas financeiras devido, sobretudo, a diferenças de câmbio desfavoráveis, o que contrasta com os ganhos de 10,5 mil milhões contabilizados em 2022, elevaram ainda mais os resultados negativos da transportadora aérea de bandeira nacional.
Para especialista em aviação comercial e director da SkyExpert, Pedro Castro, a TAAG até tem estado em vantagens em relação a muitas companhias áreas em termos custo operacional do jet fuel (combustível utilizados pelas aeronaves), uma vez que tem um preço altamente subvencionado, e é um item que representa aproximadamente 30% dos custos operacionais das outras empresas aéreas, e porque também a TAAG recebe dinheiro e garantias do Estado. “Nesta posição privilegiada em termos de custos, a TAAG deveria dar muito lucro”, disse.
O especialista vai mais longe, e argumenta que a existência de um prejuízo tão grande e ao longo de tantos anos deveria ser alvo de investigação criminal para apurar o que se anda a fazer realmente com a receita da TAAG. “Nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), por exemplo, descobriu-se que os TPAs das lojas estavam a enviar o dinheiro das vendas para contas privadas e não para a companhia. Quem sabe o que encontrará na TAAG”, apontou.