Resultados operacionais da Unitel caiem 82% após passar à esfera estatal

Longe se vão os tempos em que a Unitel era das empresas mais rentáveis do País. Em 2023, a Unitel viu os resultados operacionais caírem a pique, um ano depois de ser nacionalizada pelo Estado. Aumento dos custos operacionais, devido a investimentos feitos um ano antes, estão na base do afundanço. No entanto, os lucros até cresceram 2% graças, sobretudo, ao aumento da distribuição de dividendos do BFA.

Os resultados operacionais da Unitel caíram 82% para 8,1 mil milhões Kz (cerca 9,8 milhões USD ao câmbio do final do período), em 2023, de acordo com cálculos do Expansão com base no relatório e contas da operadora móvel, divulgado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE). Aquela que já foi uma das empresas mais rentáveis do País vê os resultados a caírem a pique um ano depois de ser nacionalizada pelo Estado. A operadora que durante muitos anos tinha o monopólio das telecomunicações tem estado a perder quota de mercado com a entrada em cena da Africell.

Em termos práticos, o resultado operacional de uma empresa é o ganho gerado a partir de suas actividades principais, descontadas as despesas operacionais. É uma medida da eficiência e da capacidade de uma organização em gerar lucro a partir de suas operações centrais. Assim, no exercício económico de 2023, a Unitel registou um crescimento de 2% nos proveitos operacionais (essencialmente prestação de serviço de telecomunicações e vendas), o que comparada com o crescimento de 14% dos custos operacionais, estiveram na base do trambolhão dos resultados da operadora pública de telecomunicações.

Segundo o relatório e contas de 2023 da Unitel, os aumentos dos custos operacionais resultam essencialmente de subidas nas amortizações, de 46,6 mil milhões Kz em 2022 para 72,1 mil milhões Kz no ano passado, e do crescimento de “outros custos e perdas operacionais”, que passaram de 114,9 mil milhões Kz para 138,8 mil milhões Kz em 2023. Em relação às amortizações, a empresa justifica com investimentos feitos em 2022 que começaram a ser pagos em 2023. Quanto aos “outros custos e perdas operacionais” tratam-se sobretudo do aumento dos custos em subcontratos, ou seja, “custos com manutenção preventiva e correctiva da rede de telecomunicações e plataformas de suporte”, custos incorridos com tráfego de interligação, e custos com o aluguer de circuitos de transmissão contratados à Angola Cables, Angola Telecom, Infrasat, Mercury e Meo, bem como a custos relacionados com serviços de call center. É assim que a Unitel justifica o aumento em 22 mil milhões Kz dos custos operacionais.

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Entretanto, num ano em que o número de trabalhadores baixou de 3.120 para 3.088, o EBITDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), um indicador financeiro muito usado para avaliar empresas e para tomar decisões de investimento, também caiu. A operadora móvel contabilizou em 2023 um EBITDA de 80,2 mil milhões Kz (96,8 milhões USD) o que compara com os 90,7 mil milhões Kz de 2022, representando uma queda de 12%. Assim, a margem do EBITDA caiu 3,3 pontos percentuais para 22,1%, o que significa que a empresa tem menos capacidade de gerar recursos mediante as suas próprias actividades operacionais.

Para Moisés Cambundo, gestor financeiro e investigador, a queda dos resultados operacionais é preocupante e pode indicar uma série de problemas, desde a gestão até à competição no mercado. “Conforme sugere a literatura, se o objectivo é entender o desempenho operacional puro e a eficiência da empresa nas suas actividades principais, o resultado operacional é de longe o barómetro “tiro e queda” para o desempenho, ou seja, se for a olhar para eficiência sem outros factores a Unitel neste momento é menos eficiente”, explicou.

E quanto à redução do EBITDA, Moisés Cambundo diz que é um sinal de que a rentabilidade pode estar em risco, uma vez que para os investidores isso gera incertezas sobre a capacidade de retorno. “A Unitel não está a demonstrar uma trajectória clara de recuperação e inovação, e pode ser vista como um risco maior, o que poderia dificultar a captação de novos investimentos ou a realização de uma oferta pública inicial (IPO), que já consta na agenda política”, argumentou.

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