Negócio é liderado por cidadãos estrangeiros que ganham por cada tonelada até 1.000.000 Kz. Crianças e adolescentes que abandonam as escolas são recorrentemente utilizados para garantir matérias-primas às casas de pesagem, que são fortes responsáveis pelo vandalismo de bens públicos.
A polícia nacional já encerrou 565 sucateiras na cidade de Luanda desde Maio, que se dedicavam à compra, comercialização e transformação de sucatas ou material ferroso de forma ilegal, sendo suspeitas de estarem na origem ou contribuírem para os crimes de vandalismo aos bens públicos que desesperam as autoridades, apurou o Expansão.
Estas empresas, entre sucateiras e casas de pesagem, foram encerradas no âmbito do programa “Protecção dos Bens Públicos”, levado a cabo pelo Governo Provincial de Luanda (GPL).
Ao que o Expansão apurou, a maior parte dos responsáveis desta actividade são cidadãos estrangeiros oriundos de vários países africanos, com destaque para malianos, guineenses, nigerianos e senegaleses. Muitos estava inseridos num sistema de receptação e posterior venda a siderurgias (com o equipamento já desfeito para ocultar proveniência), num esquema que lhes poderia render até 1 milhão Kz por tonelada.
Os municípios do Cazenga, Luanda, Viana e Belas são as zonas onde, segundo o GPL, existe excesso deste tipo de actividade. “Notamos que grande parte dos bens públicos como tampas de sarjetas, postos de alta tensão, torres de iluminação, peças de viaturas, condutas de água, cercas de metais, bustos, pilares e outras peças feitas de metais têm sido vandalizadas de forma grosseira”, referiu Dorivaldo Adão, director de Desenvolvimento Integrado da Província de Luanda.
“Então achámos por bem levar a cabo este programa que visa essencialmente proteger os bens públicos, evitando a sua vandalização e consequentemente a sua comercialização”, acrescentou. Desta operação do GPL em colaboração com as forças de seguranças, que teve inico em Maio, 15 pessoas entre proprietários e outros envolvidos nesta actividade já foram encaminhados à justiça.
Menores garantem negócio
Ao que o Expansão apurou, a maior parte das pessoas que “sustentam” as casas de pesagem e sucatas são crianças e adolescentes com idades entre os 6 e 16 anos de idade. Abandonam as escolas para se dedicarem a este tipo de trabalho, para pesar e ganhar algum dinheiro, apesar de todos os riscos que esta actividade representa. Muitos pais sabem desta actividade ilegal praticada pelos filhos, apoiando-a, uma vez que acaba por ajudar no orçamento familiar.
É o caso de Eurico Freitas de 6 anos de idade, que falou ao Expansão junto a uma das casas de pesagem do Golfe 2. Revelou que faz este trabalho desde Novembro do ano passado e com o dinheiro que ganha ajuda a mãe a manter o sustento da casa e a satisfazer as suas necessidades.
Eurico é o irmão mais novo de três, e todos eles se dedicam à recolha de sucata. Ao Expansão, o menor, visivelmente “calejado” na actividade, relatou também que por cada quilo de cobre que recolhe ganha 2.500 Kz, por alumínio 700 Kz e por ferro 100 Kz. “A minha mãe vende bidões que recolhe na rua e nós recolhemos ferros para ir pesar. Na nossa casa somos todos obrigados a trabalhar porque senão dormimos com fome e não temos direito a chinelas”, relatou o rapaz que acabava de ganhar 1.400 Kz pelos dois kilos de alumínio que tinha acabado de vender a uma sucateira que ainda mantém portas abertas.
Segundo Dorivaldo Adão, o factor idade é tido em conta pelos proprietários das sucateiras, que aliciam as crianças para entrar neste esquema por saberem que não serão responsabilizadas judicialmente. “Como as crianças são inimputáveis, os proprietários aliciam os meninos para vandalizarem bens públicos por saber que se os meninos forem apanhados, serão logo absolvidos”, afirmou o responsável do Desenvolvimento Integrado da Província de Luanda.
Esta acaba por ser uma actividade que envolve riscos para as crianças. No passado dia 20 deste mês, no Cacuaco, três menores com idades entre os 6 e os 11 morreram e sete ficaram feridas na consequência da explosão de uma granada que encontraram numa lixeira onde se encontravam a fazer recolha de sucata.
O GPL garante que vai continuar a realizar inspecções no âmbito destas actividades e sempre que detectar irregularidades graves vai mandar encerrar a actividade. “Aqueles que estiverem legais vão manter as suas actividades e os ilegais obviamente vão ser encerrados e ali onde detetarmos casos de roubo de bens públicos, os seus proprietários serão responsabilizados criminalmente”, disse o responsável do Desenvolvimento Integrado da Província de Luanda.