Quem na segunda-feira, 23, ouviu o discurso de JLo, em Nova Iorque, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, pode ter notado o enorme fosso que vai da teoria à prática. Ou seja, da retórica às acções concretas.
Se o objectivo da sua intervenção foi o de imitar o presidente do Brasil, pode-se dizer que JLo foi de todo infeliz, porque Lula da Silva é um dos políticos que não adorna os seus discursos com meros exercícios de retórica, mas que desenvolve acções concretas de combate à fome e pobreza, cujos resultados têm sido reconhecidos em todo o mundo. Aliás, foi por esta razão que o presidente brasileiro foi homenageado pelo seu engajamento no combate à fome e pobreza como, de resto, já recebeu vários tributos nesse sentido.
Durante o tempo em que está à frente dos destinos do Brasil, Lula ajudou a tirar milhões de compatriotas seus da extrema pobreza e da vulnerabilidade social. Não tem governado o Brasil com uma mão de ferro, assim como capturado as instituições do Estado, mantendo-as sob subserviência do poder político.
Os que conhecem a triste realidade angolana, sobretudo os que vivem na carne e alma as vicissitudes do quotidiano, sabem que JLo e o seu Executivo estão longe de levar um combate sério para erradicar a “pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema”. Pelo contrário, o homem, que prometeu produzir um “milagre económico”, está cada vez mais a decepcionar, distante das suas promessas.
Se ele estivesse engajado em colocar as pessoas mais pobres e vulneráveis no centro das suas acções, como referiu no seu discurso, os níveis de pobreza seriam menores, ele teria apostado numa melhor gestão da coisa pública e numa distribuição mais equitativa da riqueza social.
Em 7 anos no poder, que alcançou por via de dois processos eleitorais pouco transparentes, os níveis de miséria extrema têm aumentando, o exército de famintos crescido, existindo um número cada vez mais angolanos à procura de restos de comida nos contentores.
JLo, que hasteou a bandeira de combate à corrupção, não tem sido um espelho de virtudes em matéria de gestão transparente das rés pública, sobretudo na adjudicação dos contratos milionários, privilegiando os ajustes directos, mesmo nas situações que deveria fazer os cursos públicos.
Uma imagem de marca do seu consulado tem sido o despesismo, a manutenção de um executivo gorduroso, assim como de numerosas representações diplomáticas no estrangeiro, a par dos gastos com enormes viagens ao exterior e a contracção de dívidas milionárias com elevadas taxas de juro. Ele próprio é considerado um “viajante compulsivo” que raramente dispensa uma viagem ao estrangeiro.
Se, por um lado, ele tem pedido aos angolanos para que consintam cada vez mais sacrifícios, apertem os cintos, ele, por outro lado, não dá sinais na contenção das despesas públicas, deixando o país atolado em dívidas colossais que, não só engajam as actuais gerações, como também as futuras.
Por esta e outras razões é que o seu discurso não está a ser levado a sério, sobretudo no espaço público onde muitas têm manifestado a sua insatisfação para com a forma como gerido o país. Dito de outro modo: de mal a pior.
Ilídio Manuel