Com um reportório assente no disco “Olukwembo”, o músico Ndaka Yo Wiñi levou em placo, na sexta-feira e sábado, na Casa de Artes de Talatona, composições baseadas nas pesquisas que tem realizado. Em duas horas, o artista mostrou como combina os sons que absorveu no meio rural e os da zona urbana.
Na primeira noite da sétima edição do Lundongo, no Lwandu, teve como convidada Ângela Ferrão e ontem Mito Gaspar e Branca Celeste. O cantor não escondeu a relação afectiva que tem com a cultura angolana no geral e a Ovimbundu em particular.
Isto ficou provado na sexta-feira, quando afirmou, “eu jamais trairei a minha Pátria Angola”, realçou o artista ao explicar imposições para cantar noutras línguas e estilos mais comerciais ao longo dos cinco anos que esteve a viver no Canadá.
“Toda a valorização da diversidade é uma riqueza” assumiu, Ndaka em defesa da fusão rítmica que carrega no projecto artístico. O artista defende que nada está perdido, ” o meu trabalho é baseado na valorização daqueles que vieram antes de nós. A convidada Ângela Ferrão elogiou a postura do anfitrião ao longo da carreira.
A noite mágica do “rapaz” da cabaça
O ambiente da terra foi montado antes do concerto, à entrada da Casa das Artes de Talatona com o welcome e drink ter como propostas os quitutes da terra acompanhado com a quissângua.
O concerto, no auditório Manuel Rui da Casa das Artes de Talatona, começou com o grupo de dança tradicional Ndimbu. Depois da apresentação e introdução do espectáculo, o artista fez a evocação aos seus ancestrais.
“Akulevendada” e “Cinjangi” marcaram a fase inicial para fazer a ponte com “Lonbolola” um balada com desenho jazzístico a soarem nos teclados de Moiséis Lundumbazio. Os temas abordam questões ligadas às crianças acusadas de práticas de feitiçaria.
Os problemas intergeracionais foram cantados em “Séculú” tema com uma dramatização na performance de Ndaka que deu espaço ao solo de Mário nos saxofones. “Tchove Tchove”, tema que marca o artista, esteve entre os mais aplaudidos, com um andamento de chianda na parte final.
“Pasuka”, “Sokola”, “Evamba”, “Njolela” e outros temas do disco “Olukwembo”, assim como novidades musicais acompanharam a viagem musical que encerrou com “Ndikalakenda” uma combinação entre o tchissosse e os ritmos do contemporâneo afropop.
O feitiço da Ângela Ferrão e a cumplicidade com os músicos
A cantora optou por levar como primeiro tema, “Céu azul” uma composição de Euclides da Lomba, com forte inclinação latina. Esta música serviu para preparar a agitação do feitiço que carrega o seu “Wanga”. Este tema ficou marcado com o dueto e um momento com Ndaka e Ângela Ferrão a demonstrarem os dotes como também bailarinos.
Para dar corpo ao concerto, Ndaka contou com três integrantes da banda original Nzangu Nsau( guitarra), Jack Nsanga( bateria) e Moisés Lumbazadio( teclados), companheiros de Dalu Roger e Kris Kanjambela ausentes. No reforço, Téo( baixo), Ntão( solo), Mário( sopros), Omar ( percurssão)e duas coristas.
O percurso da Voz do Povo
Natural do Lobito (Benguela), Ndaka Yo Wiñi,(a voz do povo) pseudónimo de Adriano Dokas, nasceu a 5 de Janeiro de 1981. Filho de dois músicos tradicionais, o cantor provém de uma família de vasta ramificação, espalhada pelo Huambo, Uíge, Cabinda, Congo Democrático e Guiné-Bissau.
O artista iniciou a carreira em 2011 depois de abandonar o sector da Banca e dos Petróleos, que usou para alavancar no ramo musical e já participou em várias actividades, com realce para actuações na “Expo Milão”, em Itália, no “Marco’s African Restaurant” em Cape Town, África do Sul, “Encontro com a África”, no Brasil, entre outros pontos do mundo como Portugal e EUA. Em 2016, conquistou o prémio de Melhor Afrojazz do Top Rádio Luanda e em 2018 lança “Olukwembo” o disco de estreia
Em 2019, pela actuação na 20.ª edição do Cape Town International Jazz Festival, na África do Sul. Um ano depois, emigrou para os Estados Únidos da América e de seguida para o Canadá, onde se estabeleceu e desenvolve também o seu “Lundongo no Lwandu -Ritmo ancestral do berço.
O projecto “Lundongo no Lwandu” visa motivar a diplomacia cultural através da música étnica, fundida com outros géneros aclamados, mas cuja notoriedade seja transversal em todo o mundo, como o jazz, soul, blues, funk e pop.