Oito dos 60 jovens detidos no sábado durante uma marcha em defesa da educação e das escolas públicas em Luanda começam a ser julgados sumariamente esta segunda-feira, disse à Lusa o presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA). Francisco Teixeira adiantou que continuam detidos os dirigentes do MEA, estando os restantes jovens já em liberdade.
Além dos estudantes, foram também detidos ou intimidado pela polícia quando faziam a cobertura da manifestação quatro jornalistas angolanos, que se queixaram de ter sido obrigados a entregar os telemóveis para serem inspecionados.
No total, cerca de 150 estudantes foram recolhidos nas carrinhas policiais, dos quais 60 foram conduzidos à unidade operativa e os restantes abandonados em locais na periferia da cidade, adiantou o responsável do MEA, que “tinha sido avisado” e evitou ser preso ao não se juntar aos primeiros grupos de manifestantes, que foram detidos junto da Igreja de São Paulo.
O dirigente do MEA sublinhou que a marcha tinha reivindicações muito precisas. “Nós estamos a pedir apenas o básico. Não estamos a pedir nada de extraordinário. O que estamos a pedir é o que os governantes têm nas escolas, nos colégios dos filhos deles […]: Livro, carteira, giz, merenda, professores. É o que a gente precisa. E nós vamos continuar a lutar por isso”, afirmou, prometendo novos protestos e acusando a ministra de falta de diálogo.
Segundo Francisco Teixeira, a polícia travou a marcha com a justificação de que não tinha sido autorizada pelo Governo Provincial de Luanda, pelo que os estudantes irão responder por crimes de desobediência.
O presidente do MEA, assinalou, no entanto, que a lei angolana não obriga a autorizações, devendo apenas ser feita uma informação prévia às autoridades.
“A polícia agiu por orientação política. Foram os políticos que orientaram a polícia a usar a força necessária”, acusou, garantindo que foram cumpridos todos os pressupostos legais para a realização da marcha.
Francisco Teixeira lamentou que ministra da tutela, Luísa Grilo, se mantenha em silêncio, depois de várias cartas enviadas sem resposta, sublinhando que nunca foram recebidos pela governante.
“A ministra não é comunicativa, espelha alguma arrogância, algum desrespeito”, criticou, acrescentando que apenas uma vez delegou a missão de receber os estudantes no seu secretário de Estado. “Ela contraria-se quando disse naquela entrevista para nós não imigrarmos, porque gosta que lhe critiquem mesmo aqui dentro. Mas não é verdade. Ela não responde às cartas e não senta com as pessoas para discutir os problemas profundos ligados à educação”, salientou, reconhecendo uma postura mais dialogante nos delegados provinciais de Educação.
Na semana passada, a ministra Luísa Grilo afirmou que os jovens que abandonam Angola devido à falta de condições sociais e económicas “não fazem falta” e que “o bom jovem fica mesmo aqui” e “faz críticas” para o governo melhorar o trabalho, declarações que desagradaram a muitas organizações jovens e membros da sociedade civil.
“Enquanto o Estado não me disser quando é que vai meter as carteiras, quando é que vai meter os livros, nós temos que continuar a lutar”, insistiu Francisco Teixeira. A Lusa contactou a Polícia Nacional de Angola, mas não obteve esclarecimentos sobre as detenções dos estudantes e jornalistas até ao momento.